Amigos, o que vou narrar faz parte de uma gama de acontecimentos ocorridos num sitio que tenho em Santa Izabel do Pará, e sempre que estou exinanido, procuro me exilar por lá.
É claro que não podemos imaginar uma propriedade rural, por menor que seja, sem a presença de um canino, e lá também não é diferente, e já foram vários e diversos que passaram por lá, mas nenhum protagonizou uma história, como a que viveu o vira latas chamado “brotoeja,” (o mesmo da foto acima), exímio caçador, amigo fiel do pessoal que residia na época no sitio. Como afirmava o Zé Maria (filho do caseiro), “brotoeja” era como um pai para eles.
Então vamos ao ocorrido:
Num belo final de tarde, já no limiar da boca da noite, o pessoal já todo recolhido, após aquele café com beiju, cada um em sua baladeira, eis que “brotoeja” dá sinais de que está acuando uma caça, logo, Zé Maria, mais que depressa dá aquele pulo da rede, já pondo as mãos no bacamarte, e sai em socorro de “brotoeja”, corre daqui, corre dali, brotoeja na frente Zé Maria atrás e um tatu na frente, o caminho umedecido pela chuva que tinha caído pela parte da tarde, fazia com que a cada instante “brotoeja” derrapasse, lembrando as famosas escapadelas da F1, saindo do caminho mais logo ele se restabelecia, e seguia em sua intrépida perseguição ao tatu. É do saber de todos que quem é perseguido tem sempre mais destreza que o perseguidor, então eis que o desesperado tatu chega a sua toca e zás adentra com tudo no seu buraco, “brotoeja” que já estava pega não pega, quando percebe que o tatu se emburacou, mais que depressa lança suas duas patinhas a sua frente, assim como que lançando mão de seu freio, e por uma infelicidade destas do acaso, pisa em cima de uma folha caída e não consegue seu intento que era parar, desliza, e tibum, se imbiocou no buraco junto com o tatu. A partir daí começou uma luta de Zé Maria, para tirar “brotoeja” daquele desespero, é... desespero mesmo, pois o destemido “brotoeja” se debatia como podia na tentativa de sair daquela incomoda situação, e Zé Maria, também desesperado tentava de todas as formas sacar seu cãozinho daquele aperto, e mete a mão daqui mete a mão dali, nada, o buraco é muito apertado, e tem um detalhe importante, “brotoeja” era cotó, ou seja não tinha rabo, o que dificultava ainda mais o desatinado resgate. Exaurido de todas as tentativas, e já temendo pela vida do seu cão, pois o tempo nestas situações corre contra o relógio, eis que Zé Maria num lampejo de inteligência, rememora a forma de tirar tatu do buraco, mas tinha um inconveniente, por se tratar de um homem de labuta diária na agricultura, Zé tem suas mãos calejadas, e seus dedos além de grossos, ásperos, então Zé se vale de um recurso, grita para que Belo, seu irmão corra até a casa deles e lhe traga o vidro de andiroba, o que prontamente Belo faz, então Zé Maria azeita seu dedo mindinho, para que o trauma não seja muito grande para “brotoeja,” e meus amigos... é isso mesmo... Zé terá que tirar o “brotoeja” do buraco a qualquer custo, pois se trata de uma questão de sobrevivência, não só do “brotoeja”, mas da família, já que é ele quem alimenta a família com sua exímia arte de caçar.
Então com o dedo mindinho devidamente untado com a andiroba, Zé Maria começa sua lida para tirar seu amigo do buraco, ajeita aqui endireita acolá e então tchum, Zé enfia seu dedo no cu do “brotoeja” e o arranca do buraco, que num grunhido de desespero, traduz toda sua revolta por está naquele momento sofrendo uma das maiores violências no que tange a honra, sua defloração representava uma humilhação sem tamanho, é meus amigos, nem só os seres humanos, tem sentimentos, quando “brotoeja” se viu fora do buraco, dava um olhar desconfiado para o pessoal, e naquela noite, e por mais alguns dias, ninguém conseguiu ver o “brotoeja,” que se evadiu para o mato, muito embora após Zé Maria o ter retirado do buraco, lhe fez uma massagem anal, com andiroba e sebo de Holanda.
Em casa todos ficaram muito tristes com o acontecido, sentiam-se meio que órfãos, já que eles tinham perdido um grande aliado.
Passado uns quatro dias, num final de tarde, Zé Maria estava no terreiro, pitando seu cigarrinho quando de repente... quem ele avista? É... era o “brotoeja” que ainda um tanto desconfiado se apresentava, cabisbaixo, ele foi se chegando, e se esgueirando enfiou-se debaixo de uns sacos de feijão, saindo apenas para comer e beber, dispensando mesmo até os afagos. Os dias foram passando e “brotoeja" foi voltando a se “inturmar,” ainda que muito lentamente, mas com demonstrações de afeto daqui, carinhos dali, “brotoeja” foi voltando a sua velha forma, embora nunca mais tivesse empreendido nenhuma perseguição a qualquer tipo de caça, o que levou o pessoal da casa a pensar que brotoeja já não era mais o mesmo, e que dificilmente iria voltar a caçar, ainda assim não lhe faltava à atenção de sempre.
Os dias foram transcorrendo normalmente e nada de novo acontecia, até que numa bela e ensolarada manhã, o pessoal estava reunido assistindo uma corrida de formula um, vendo o nosso saudoso Airton Senna na pole positions de mais um GP, quando de repente, ouviu-se a meia distancia os latidos de “brotoeja”, todos da casa, muito felizes correram para o mato, Zé Maria já portando o seu bacamarte, sai contente e muito aliviado, pois o seu fiel amigo já estava refeito do trauma e novamente saia em perseguição a uma caça.
Corre daqui, corre pra li, se enfia aqui, sai por lá, eis que “brotoeja” revive seus velhos tempos, e Zé Maria atrás, e pega não pega o tatu tchum se enfia no buraco, quando Zé Maria chega perto do buraco encontra o “brotoeja” na posição de ataque acuando o tatu, e o Zé feliz da vida se aproxima, e “brotoeja” latia e grunhia para dentro do buraco, e rapidamente se virava para trás e em direção ao Zé Maria, rosnava e mostrava-lhe os dentes, numa clara demonstração de que agora ele estava atento.
É aquela velha máxima quem faz esquece, “brotoeja” agora defendia sua honra com unhas e dentes.
E o Zé não ousou se aproximar de "brotoeja."
3 comentários:
Olá Xico Rocha,
Obrigado pela visita ao meu Blog. Li com muita atenção o seu comentário e, sabe, agora que o visitei, dou comigo a pensar que foi o brotoeja que o escreveu nos 4 dias que esteve fora, tanto era o fel.
Estou a brincar amigo, aceito a sua opinião e deixe que lhe diga: vou procurar aqui outras histórias deliciosas como esta.
Um abraço,
Carlos Ponte
Caro Xico Rocha,
Muito boa a estória.
Fiquei com pena do brotoeja.
Lembrei da ocorrido com o amigo cabeção que precisou fazer o exame da próstata.
Tudo começou quando .....
Bem deixa pra lá, ele me fez prometer que não contaria niguém.
Um abraço
Bruno
Eu achei tão engraçado o nome desse cão, melhor dizendo bonitinho.
Eu adorei a narração da estória do "brotoeja", mas, não o que aconteceu com ele. Tadinho...
Rocha, não achas que deverias escrever um livro?
Mari
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