segunda-feira, novembro 20, 2006

SUPERSTIÇÕES???

Não acredito em brujas, pero, que las hay, las hay.
O ditado é antigo e expressa perfeitamente uma constatação que há muito circula nos meios aeronáuticos. As superstições e azares que alguns prefixos, no caso de empresas aéreas, parecem trazer. A questão é tão antiga quanto a aviação. Desde que aeronaves passaram a receber prefixos e envolverem-se em acidentes, parece haver um fascínio em relacionar as letras usadas nos prefixos com o abstrato conceito de sorte ou azar. Chega a ser surpreendente que, num meio tão técnico, povoado por pessoas com sólida formação acadêmica, temas como este existam e sejam levados mesmo a sério. É curioso ver como engenheiros, técnicos e pilotos, profissionais que exercem suas atividades confiando em tabelas, cálculo e regras tão matemáticas quanto complexas, acreditem em coisas como essas maldições dos prefixos. Mas é justamente a estranha coincidência de letras que fortalece entre os aeronautas e aeroviários a tese de que certas letras dão azar. O Jetsite agora faz um apanhado e comenta que, superstições como essas podem até ser consideradas como bobagens, pero... las hay!Azar Nº1: Prefixos verdadeiros em maquetes.O leitor mais atento deve ter reparado: as maquetes de fibra de vidro, daquele tipo exposto em agências de viagens, quando comissionadas por companhias aéreas, utilizam-se de prefixos inexistentes. A razão para isso é a superstição de que aviões com prefixos reais representados em maquetes acabam envolvendo-se em acidentes. A tese foi inicialmente corroborada no Brasil pelo acidente ocorrido com o Constellation L-1049G da Varig, PP-VDA. Ao receber as primeiras maquetes, que mostravam esse prefixo, os diretores da Varig da época já não acharam de bom agouro, mas deram de ombros. Afinal, as maquetes haviam chegado dos Estados Unidos assim, feitas em alumínio, e eram espetaculares. Menos de dois anos depois de entregue, justamente o O PP-VDA acidentou-se. Foi em 16/8/1957 ao largo de Puerto Plata, República Dominicana, num vôo de traslado, operando trimotor, apenas com tripulantes a bordo. Após decolar, um dos três motores remanescentes parou em vôo. A tripulação da aeronave não teve alternativa senão fazer um bem sucedido pouso de emergência no mar. A aeronave afundou e um dos tripulantes perdeu a vida no acidente. Foi o que bastou: Ruben Berta pessoalmente ordenou que todas as maquetes da empresa passassem a ostentar o prefixo fictítico "PP-VRG". E assim é até os dias de hoje. Interessante é notar que na frota de 777 da companhia, que justamente é matriculada PP-VR_ (VRA, VRB, VRC.) o famoso PP-VRG não foi registrado. A Varig opera o PP-VRF e a seguir, o PP-VRI. Em tempo: a Vasp, sempre usava o PP-VSP. A Transbrasil usava o PP-SDA (quando era chamada de Sadia) e depois, já com a nova razão social, PT-TRA ou PT-TRF. Azar Nº2: Mostrar em anúncios o prefixo das aeronaves.Vem dessa época uma superstição muito parecida: aviões mostrados em anúncios, com seus prefixos verdadeiros aparentes, envolvem-se em acidentes. As fotos de aviões usadas em anúncios da Varig eram portanto sempre retocadas, com as matrículas reais apagadas ou substituídas pelo PP-VRG. A tradição foi quebrada num anúncio da Varig Cargo, que mostrava justamente. adivinhe: o 707-320C PP-VJZ, aeronave que acidentou-se em 11 de julho de 1973 nas cercanias do aeroporto de Orly, Paris, matando quase todos os ocupantes! Como profissional de marketing da Transbrasil, fui responsável por muitos anos pelos anúncios da empresa. A ordem de Omar Fontana era clara: apagar ou retocar prefixos em todas as peças de comunicação. Azar Nº3: Transbrasil e a letra SPor falar em Transbrasil, talvez a mais forte sucessão de azares relacionados a uma determinada letra seja a história da Sadia / Transbrasil e a letra "S". A longa lista de acidentes começa com o DC-3 PP-SLL, único na frota com matrícula começando em S. A aeronave bateu num morro em Ibicaré, SC, voando baixo e com mau tempo, matando todos os ocupantes. A seguir, em 1/3/1967, o DC-3 matrícula PP-ASS acidentou-se em Caravelas, BA, com perda total da aeronave, mas sem vítimas fatais. Depois, foi a vez do BAC 1-11-500, prefixo PP-SDS. A aeronave saiu da pista de Viracopos, Campinas, SP, durante um temporal, em 4/01/1977 e ficou irrecuperável. A lista continua: o Boeing 727-100 da Transbrasil que colidiu com o morro de Ratones, Florianópolis, SC, em 12/04/1980 era o PT-TYS. Mas a má sorte com o "S" ainda não havia terminado na Transbrasil. Adivinhe qual a matrícula do 707 que caiu numa favela na cabeceira do aeroporto de Guarulhos, SP, em 21/03/1989? PT-TCS! Outro detalhe curioso sobre esta malfadada aeronave: foi exatamente ela que foi utilizada nas filmagens do primeiro filme da série "Aeroporto". Depois deste, a Transbrasil nnao registrou mais nenhuma aeronave com prefixo terminando em "Sierra". Note que a frota de 737-300 não teve o prefixo PT-TES registrado. Outro fato curioso que advêm dessa desastrada seqüência de acidentes: a Gol não vai registrar aeronaves com prefixos terminando em "S". Diretores da empresa, oriundos da Transbrasil, são os responsáveis por essa precavida decisão. Azar Nº4: Vasp e a letra ETão impressionante quanto a saga da Transbrasil e o "S" é a Vasp e a letra "E". A lista de acidentes e incidentes começa logo no primeiro vôo comercal da empresa, realizado pelo Junkers Ju-52 PP-SPE entre Rio e São Paulo em 1936: a aeronave acidentou-se no pouso, mas foi recuperada tempos depois. Em 30/12/1952, o Saab Scandia PP-SQE caiu na Baía da Guanabara, matando todos os seus 22 ocupantes. Em 15 de setembro de 1968, o Viscount V.827 de prefixo PP-SRE caiu próximo à Cidade Universitária em São Paulo. A aeronave realizava um vôo de instrução, com dois de seus quatro motores desligados intencionalmente. O comandante em instrução, um dos dois únicos ocupantes, não conseguiu controlar o Viscount, que caiu sobre casas, matando seus tripulantes. Depois, foi a vez do EMB-110C Bandeirante, prefixo PP-SBE, dar prosseguimento à trágica saga: após decolar de Congonhas, em 27/02/1975, a aeronave teve uma pane no motor e ao tentar regressar ao aeroporto, caiu sobre casas no Campo Belo, matando seus 15 ocupantes. A Vasp ainda perderia mais um "Echo" de sua frota: em 28/01/1986, o PP-SME, Boeing 737-200, sob intenso nevoeiro, alinhou numa pista de taxi do então novíssimo aeroporto de Guarulhos e iniciou a corrida de decolagem, seu piloto acreditando que estava na pista 09L. Como a pista de taxi ainda estava em construção, algumas centenas de metros depois o Boeing colidiu com um barranco ao final da mesma. Dias depois, um dos passageiros do Boeing faleceu em conseqüência dos ferimentos sofridos no impacto. Este foi o primeiro acidente fatal da história de Guarulhos. Azar Nº5: A saga da letra K no BrasilEsta parece ser a letra mais azarada de nossa aviação. Acidentes com aeronaves cujos prefixos terminava em "Kilo" ocorreram com quase todas as nossas grandes empresas. A série de acidentes com aeronaves de prefixo "K" só não é mais olonga porque, aqui no Brasil, a letra passou a ser evitada. A longa série de acidentes começa com o Messerschmitt Me-206 PP-VAK da Varig, acidentado em 7/3/1948. A lista segue com o DC-3 da Cruzeiro do Sul, PP-CCK, que teve de fazer um pouso forçado em Trinidad, Bolívia, em 27/07/1951. Depois, foi a vez da Real Aerovias perder o DC-3 PP-YPK em Campo Grande, MS, em 28/08/1953. A Nacional perdeu outro DC-3, PP-ANK, acidentado ao decolar do aeroporto da Pampulha, MG, em 6/09/1956. A Nacional ainda perderia o C-46 PP-AKF, que caiu em 7/12/1960 na serra do Cachimbo, PA, matando todos os seus ocupantes. A Varig perdeu o DC-3 PP-YPK, acidentado em Porto Nacional, GO, em 23/06/1966.A Vasp também não deu sorte com o "K". O pior acidente da história da empresa foi com o Boeing 727-200 PP-SRK em 09/06/1982, ocorrido quando o Boeing chocou-se contra a serra da Aratanha, CE, matando seus 135 ocupantes. Mas quem deu mesmo azar com a letra foi a Varig. Além dos dois acidentes já comentados, a Varig perderia ainda mais três aeronaves com prefixo "Kilo." O Convair 240 PP-VCK, acidentado em 22/09/1958 num vôo de treinamento no aerporto do Galeão, Rio de Janeiro. Em 2/01/1987, o 707-320C prefixo PP-VJK. A aeronave, que fazia seu ultimo vôo pela empresa, caiu sobre a mata perto de Abidjan, Costa do Marfim, quando regressava para pouso após o desligamento preventivo de um de seus quatro motores. O 707 estolou e caiu invertido sobre a floresta, matando 50 de seus 51 ocupantes. Depois, a companhia perdeu o PP-VMK, o 737-200 tragicamente acidentado em São José do Xingú, MT. O 737 decolou de Marabá com destino à Belém, escala final do vôo RG254. A tripulação plotou no sistema de navegação da aeronave a proa 270º (proa oeste), ao invés da proa correta que seria 027, no rumo N/NE. Após voar algumas a aeronave fez um pouso em pane seca na floresta, à noite. Milagrosamente, escaparam com vida 42 dos 54 ocupantes do avião. E talvez tão famoso e trágico quanto os acidentes anteriores tenha sido a queda, em 31/10/1996, do PT-MRK, o Fokker 100 da TAM que caiu sobre casas do bairro do Jabaquara, em São Paulo, matando seus 99 ocupantes e mais 3 pessoas em solo. Por uma dessas estranhas coincidências, em 31/10/2000, exatos 4 anos após a queda do PT-MRK, outro "Romeo Kilo" acidentou-se: o 9V-SPK, 747-400 da Singapore Airlines, colidiu com equipamentos ainda em solo, durante a decolagem de Taipei, Taiwan, matando de 82 de seus 179 ocupantes. Outra coincidência: o 9V-SPK também tinha uma pintura exclusiva, assim como o PT-MRK, o Fokker 100 "Number One" da TAM. O fato é que estes casos mostram uma faceta pouco conhecida do público: as superstições que existem no meio aeronáutico. Meras coincidências? Que las hay, las hay.

4 comentários:

nocheoscura disse...

Según el mapa que hay a la izquierda de la pantalla soy el primer español en visitar este blog. ¡Bien!

Menina Marota disse...

Eu não acredito nelas, mas ao ler-te, que dizer?
;)

Ivan Daniel disse...

Xico, acho que os partidos políticos brasileiros deveriam ter pensado em superstições também quando escolheram suas siglas. Os mais novos ainda têm chance!

Marcio disse...

Não se esqueçam do WHK e MBK da TAM