terça-feira, outubro 02, 2007

MAMA ÁFRICA.

Desde que cheguei da África tenho tido o desejo de escrever algo sobre aquele Continente, com certeza por conta da minha ignorância em relação aquelas terras.
Hoje resolvi escrever e dar meu testemunho sobre o que vi do outro lado do Mar.
Eu como bom ocidental que sou, adquiri por força da cruz e da espada do meu conquistador, o vício do europocentrismo, nossa ciência, nossa técnica e fundamentalmente nossos valores, hoje tido como vitoriosos, tem me servido de paradigmas para avaliar as “outras” culturas.
Por isso mesmo o meu imaginário de África, o tornava um Continente negro, sempre que alguém se referia sobre aquele Continente, eu o idealizava negro.
No inicio deste ano tive a oportunidade de viajar a Angola, e para minha surpresa me deparo com uma terra multicolorida, onde o verde da vegetação é tão, ou mais verde que o meu verde amazônico, o azul do céu tem o mesmo matiz do meu céu americano, o colorido africano é a expressão cabal da esperança da fé e da alegria daquela gente, cujo detalhe da pigmentação de sua pele, transpôs oceanos e mares gerando paradigmas, impondo crenças. Sem contar que a África sobre Saariana é branca, ou menos negra.
Ao longo do século XIX e na primeira metade do século XX, nossa presunção e soberba do "fardo do homem branco", a visão messiânica da "missão civilizadora", legitimadora do imperialismo ocidental, foi responsável por inúmeros danos e malefícios causados ao Continente Negro que vai muito além do preconceito.
Falo assim porque vejo nos déspotas africanos dos anos recentes uns "travestis" culturais: uma aterrorizante simbiose entre costumes tribais e "poses" ocidentais. Recordando o clássico Machado de Assis "índio vestido de Senador do Império". Temos uma "culpa em cartório" originária: interferimos e violamos os costumes e a história africanos. Em 1885, na conferência de Berlim, quando as nações ocidentais partilharam os territórios do Negro Continente, a divisão foi feita segundo os interesses dos europeus, ignorando e violentando as realidades tribais. Criando países artificiais, que agrupavam em seu interior tribos culturalmente diferenciadas e, quase sempre, antagônicas, os europeus gestaram os conflitos que até hoje assolam a África Negra. O Ocidente abortou a linearidade do processo histórico africano, dando à luz um pavoroso feto eivado de ódio, ressentimento e, paradoxalmente, admirador do que existe de pior entre nós, um malfadado "clone" do Ocidente.
Mas minha esperança foi renovada, porque vi no rosto sofrido daqueles nossos irmãos, o desejo de construir uma nova realidade, a nova consciência que se constrói as duras penas por lá reflete este anseio do povo africano.
Eu por aqui estou torcendo, não só por conta da culpa que temos com a história da África, mas pelo meu anseio de justiça.

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