sexta-feira, agosto 17, 2007

RUI, ONTEM, HOJE, AMANHÃ!

O meu re-retorno à Academia tem me levado a buscar novas leituras, e nesta busca, tenho lido muita coisa boa, estou lendo a obra de Nelson Mota "Noites Tropicais”, uma delicia, seguindo a busca por coisas das ciências jurídicas, chego a Rui Barbosa, e me esbarro com um poema que mais do que lindo, é algo visionário para a época, e impressionantemente atual. Poderia ter sido escrito hoje sem mudar uma palavra...
Desfrutem.

Sinto Vergonha de Mim

Sinto vergonha de mim, por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, e tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.


Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".


5 comentários:

GK disse...

Não conhecia. Obrigada pela dica.

António Miguel Miranda disse...

Divulgação

Mais um Blog que se tornou um Livro!

Filme da apresentação disponível no YouTube em “Camarada Choco”

www.camaradachoco.blogspot.com
www.camaradachoco.blogs.sapo.pt

a d´almeida nunes disse...

Antes de mais nada. Desculpa lá, Chico, mas não deixei nenhum comentário, como era da mais elementar justiça e boa educação, no post em que apresentavas ao pormenor o maior cajueiro do mundo.
Desculpas de mau pagador, né?
Vejo que andas por aí todo envolvido em questões jurídicas e outras leituras que tais.
Um abraço
António

Adriana Roos disse...

Nada mais triste e atual não é Xico?
Temos vergonha da honestidade?

Tenho pena de nós também, assim como o Rui, tenho pena de um povo tão pacífico quanto o nosso, que só reclama entre os seus - familiares, amigos, colegas de trabalho - mas vai aceitando tudo, ouvindo tudo, falando nada...
E o governo, e o próprio povo, cada dia mais desgovernado.

Fernanda Passos disse...

Caramba! Que texto maravilhoso! me identifiquei muito com ele.