domingo, janeiro 14, 2007

AS AVENTURAS DO BEIBI JUNIO, AINDA NO NORDESTE

Beibi júnio, nordestino, indomesticável até hoje, é uma dessas figuras especiais (é uma em um milhão), obra pura da generosidade divina. É que quando ele nasceu no nordeste, de sol inclemente, da natureza rebelde, e dos famosos cabras da peste, de cada dez nascituros, onze morriam, mas Beibi com a graça de São Francisco das Chagas, de Assis, e do Venerável, e Santo, Padim padi Ciço, vingou para alegria da pequena prole de oito irmãos, Beibi era o nono.
Conta à lenda que o véio Dedé (aqui denominado genitor) foi logo na budega da esquina e providenciou logo dois cruzeiros em bolachas Maria, no que foi barrado pela genetriz do recém-nascido, no seu intento de saciar a gulodice do pequeno rebento.
O tempo passou e o pequeno Beibi, mesmo sem receber as doses de vacinas tão necessárias para seu desenvolvimento(aqui a questão é politica), continuava se desenvolvendo meio a contento.
Passado o primeiro ano ele consegue driblar as estatísticas, é que no primeiro ano de vida lá pelas bandas do nordeste era foda para sobreviver, e ele comemor... ou melhor, ultrapassa a barreira do primeiro natalício.
A família de Beibe se alegra, este curumim é iluminado vai dar certo, e assim os anos foram transcorrendo e Beibe, escapando das fatídicas estatísticas.
Agora Beibe já é taludinho, já brinca na rua com a curuminzada, joga bola, peteca, brinca de pira, faz tudo que lhe é de direito.
Um dia, (é bom que se saliente aqui, que Beibe Júnio é fruto do pós-guerra), está no meio da rua sentado nas areias, junto à rodada de curumins de seu tope tagarelando sobre a vida, e a conversa descambou para o rumo da guerra, e então um dos curumins da turma, um já mais taludinho disse:
- “olhai aí negrada, os americano são muito mau, lá na guerra eles entravam assim nas cidades, com aquelas fardas deles, atirando pra todo lado, curumim feito nós, eles sapecava assim pra riba e esperava cair na baioneta”, e etc, etc e tal... e a prosa tomou os rumos dos finalmente, e o grupo dispersou, era hora da Ave Maria, sagrada por aquelas bandas.
E os dias se passavam sem muitas novidades, os dias nasciam curuminzada brincava, banhava, comia, dia morria curumim dormia e tudo voltava ao normal.
Eis que numa bela e ensolarada tarde do nordeste, toda a curuminzada estava reunida na entrada da cidade proseando como de costume, e entre prosa e tapas nas cabeças dos outros, curuminzada tá feliz.
Então, eis que derrepente se ouve uns estampidos de tiros, e um exército que adentrava a pequena e pacata Parnaibópolis.... e tchan, tchan, tchan um olha para o outro, e o que lhes ocorre, um dos curumins grita; - “negrada é os americano”.
Quem é que ficou para comprovar?, foi um pernas pra que te quero e o dispersar foi imediato.
Beibe Júnio muito desesperado corre para sua casa, e, no percurso lembra que no fundo do quintal de sua casa, tinha um poço que estavam cavando, já tinha uma boa profundidade, então Beibe acha sua tabua de salvação, o velho poço pensou ele, e não deu outra, correu até lá e tibum, se atirou de primeira, mas ao chegar ao fundo, Beibe sentiu que se os americano chegasse até em cima e olhassem para baixo fatalmente o enxergariam, mas que depressa Beibe põe-se a cavar as laterais do poço para poder se esconder definitivamente dos americano.
O acontecido deu-se no inicio da tarde, por volta das 14:00h, já começava a escurecer e Beibe começa a se desesperar, pois ele agora leva sua preocupação para a sua velha mãe.
Passado alguns minutos ele começa a ouvir os gritos da mesma: -“Bei-be, Bei-be, cadê tu minino?”.... “Bei-be, Bei-be aparece logo minino”.
E Beibe no fundo do poço pensou, -“Ih os americano agarraram a véia”
E ela continuava a bradar chamando o Beibe, que no fundo do poço pensava, -“tão acochando a véia, eles querem me pegar”.
E o tempo foi passando, e chegou à noite... então Beibe pensou: -“é vou me entregar, não tem jeito eles tão acochando a véia.
E ela desesperada com o passar da hora gritava mais forte pelo Beibe que então resolveu se entregar para os americano, e ele pensava: acho que já agarraram os outros, só falta eu, seja o que Deus quizer, e num surto de coragem Beibe grita lá do fundo do poço: -“mãe, mãe tô aqui”.
Passado mais uma meia hora é que a mãe de Beibe consegue localizá-lo, e aí foi outra agonia para retirar Beibe Júnio do fundo do poço, foi preciso chamar a vizinhança, arranjar corda escada, não conseguiram, só mesmo com a chegada da brigada do Tiro de Guerra é que Beibe foi resgatado, imaginem o que pensou Beibe quando viu os soldados lá em cima retirando-o dentro do poço, só pensava na baioneta que o esperava.
Quando Beibe finalmente chega lá em cima, sua mãe já muito injuriada e portando uma velha correia que servia de corretivo, pergunta,´-"que foi que te deu curumim por que diabos te meteu aí dentro?"
Ele – “os americano cadê eles?” adivinhem a resposta, taca e mais taca nos costados de Beibe, que após uma boa surra foi tomar um banho no rio para poder dormir, porque além da taca tinha o castigo, dormir com fome.
No dia seguinte Beibe acordou logo cedinho, primeiro para matar a fome, e depois para saber quantos de seus amigos os americanos tinham matado.
Só então Beibe pode se interar do que aconteceu, é que as Lojas Rianil, estavam inaugurando uma filial na sua cidade, e para tal contratou uma fanfarra, que vestida a caráter e ao estampido de muitos foguetes saíram em grande estilo pela pequena Parnaibópolis.
Assis se encerra mais um episódio das aventuras de Beibe Júnio o anti-herói.






Nenhum comentário: