Para fechar esta reverência publico um poema muito bonito do mesmo.
Detalhe: a aparência guevariana é proposital com certeza.
O FATO
Na água em que me lavo,
o teu escarro.
No prato em que almoço,
tua moléstia.
Nas coisas que eu afirmo,
tua idéia.
Na minha voz que fala e chora e cala,
a tua mentira.
Atrás de mim passeias livremente
e não te esbarro
não me volto e não te enxergo.
Te sinto apenas a repetição da minha angústia
vezes dois
e te imagino torto
e te sei um fato ereto em minhas costas,
caminhando.
Assustam-me os meus dedos: são os teus,
magros, inúteis.
Reparo à tôa num espelho: a minha face
não é mais minha, mas a tua
e teu desdém.
Na rua, amigos me perguntam como vou.
Digo: vai mal, vai mal...
E deixo que teus passos me insinuem na ida
e me obstruam a vinda.
Sempre estou lá. Não saio
do arcabouço do meu corpo.
Calabouço?
Digo: balanço – mas por detrás sussuras:
Masmorra indissolúvel em que te encontras.
E eu fico.
2 comentários:
Retrato em chumbo dos anos de chumbo.
Abs
Tadeu
Isso Tadeu, e este companheiro que sofreu tantas atormentações não conseguiu sobre viver as pressões.
Um abraço
Xico Rocha
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