quinta-feira, dezembro 27, 2007

TORQUATO NETO.

Sem nenhuma razão aparente, mas com todas as razões do mundo. Homenageio hoje esta figura ímpar da cultura brasileira. Piauiense de Teresina, Torquato Neto tem uma importância marcante , não só para a música, mas para a arte brasileira em seu sentido geral.
Para fechar esta reverência publico um poema muito bonito do mesmo.
Detalhe: a aparência guevariana é proposital com certeza.

O FATO

Na água em que me lavo,

o teu escarro.

No prato em que almoço,

tua moléstia.

Nas coisas que eu afirmo,

tua idéia.

Na minha voz que fala e chora e cala,

a tua mentira.

Atrás de mim passeias livremente

e não te esbarro

não me volto e não te enxergo.

Te sinto apenas a repetição da minha angústia

vezes dois

e te imagino torto

e te sei um fato ereto em minhas costas,

caminhando.

Assustam-me os meus dedos: são os teus,

magros, inúteis.

Reparo à tôa num espelho: a minha face

não é mais minha, mas a tua

e teu desdém.

Na rua, amigos me perguntam como vou.

Digo: vai mal, vai mal...

E deixo que teus passos me insinuem na ida

e me obstruam a vinda.

Sempre estou lá. Não saio

do arcabouço do meu corpo.

Calabouço?

Digo: balanço – mas por detrás sussuras:

Masmorra indissolúvel em que te encontras.

E eu fico.



2 comentários:

Anônimo disse...

Retrato em chumbo dos anos de chumbo.
Abs
Tadeu

Xico Rocha disse...

Isso Tadeu, e este companheiro que sofreu tantas atormentações não conseguiu sobre viver as pressões.
Um abraço
Xico Rocha